Salgueiro Maia - Evocação do 25 de abril de 1974


É a figura mais importante do século XX português. só Aristides de Sousa Mendes se aproxima dessa ideia de lutar pelo que é digno, pelo que é o rosto das pessoas.

Concentrou em si toda a imaginação de uma alvorada. o sonho possível, tornado instante de promessa viva e sublime. Ousou encerrar as prisões de alma que os mais bem parecidos sempre criaram no poder soberano das máscaras. Sonhou com as pessoas, não para as usar num estatuto de acaso, mas para pensar nelas como uma comunidade de maior decência e dignidade.

Imaginou o grito e a esperança, nunca se importando se perdia algo, apenas preocupado com a determinação, a força do espírito para manhãs mais justas. Sonhou com os abraços, na mais romântica das formas, servindo apenas a causa, a da liberdade. Nunca teve programa, apenas se servia da gentileza e do sorriso largo e da coragem, a mais sublime. Viveu o sonho e retirou-se não querendo privilégios, nem cargos, ou reconhecimento.

Ele foi apenas o sopro livre da liberdade, a promessa do dia limpo, a substância do tempo, contrária a qualquer carreirismo. Foi dele que aprendemos que “revolução” é a construção a partir da praia de sonhos, do dia limpo e inicial, de que falava Sophia. Num dia de gestos repetidos, onde o passado ainda é um crédito para um presente pouco relevante, recordemos a coragem de quem se ofereceu, apenas na alegria do sorriso mais terno.

No vinte e cinco de Abril, saibamos compreender o gesto maior de fazer, de lutar, de ser só porque isso é o que está certo, independentemente das consequências. Nesta data um aplauso vivo a quem compreendeu de uma forma superior o que em mais de quatro décadas uma classe política ainda não percebeu. A de que o 25 de Abril é, foi uma oferta para uma nova relação connosco próprios, o dia branco de possibilidades e não só e apenas o arrumar de ideias fragmentadas sem solidariedade no olhar.

O 25 de Abril não é uma data, é uma descoberta do que podemos ser.