Mia Couto recebeu Prémio Literário Manuel de Boaventura 2021
Mia
Couto, o vencedor do Prémio Literário Manuel de Boaventura 2021, manifestou
vontade de contribuir para que “Esposende seja reconhecida como um centro de produção
cultural”. O escritor falava na sessão de entrega da terceira edição do Prémio,
que decorreu esta tarde, no Auditório Municipal de Esposende, assumindo, assim,
a vontade de regressar a Esposende para conhecer melhor o Município e beneficiar
do seu rico património cultural.
A
propósito da visita que, hoje, realizou à Casa de Manuel de Boaventura, imóvel que
o Município de Esposende adquiriu recentemente, Mia Couto partilhou memórias
para, a partir daí, explicar que a génese do livro “O Mapeador de Ausências”,
que lhe valeu o Prémio Literário Manuel de Boaventura, foi partilhada com Patrícia,
a sua companheira, com a sua filha mais velha e com o responsável editorial em
Portugal, pois “não existe um único autor”.
Na
busca de informação sobre o concelho, o escritor moçambicano descobriu um
trecho de Agustina Bessa Luís dedicado a Esposende, em que a escritora refere o
seu “…apego profundo à natureza marítima das coisas e das pessoas…”. Mia Couto concluiu
que “o trabalho do escritor é como o do sargaceiro, trazendo para terra não apenas
coisas do mar mas o próprio mar”.
Pela
primeira vez em Esposende, Mia Couto assumiu que se deixou encantar por este
território, que apelidou de “preciosidade”, e manifestou a disponibilidade para
colaborar com o Município na materialização de eventos culturais que possam
enriquecer culturalmente o concelho. “Estou completamente disponível”,
declarou.
O
Presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, enquadrou a
atribuição do Prémio Literário Manuel de Boaventura na estratégia cultural do
Município. Referiu que, neste contexto, se insere, para além do Prémio, a
reedição das obras de Manuel de Boaventura e a recente aquisição daquela que
foi a sua moradia em Palmeira de Faro, para transformação em Casa-Museu,
notando que a salvaguarda deste património e demais espólio de Manuel de
Boaventura é da maior relevância.
Sobre
o Prémio Literário, Benjamim Pereira afirmou que esta terceira edição, à qual
concorreram 104 obras, de vários países de língua portuguesa, deu “um salto
qualitativo”, ficando associada a “uma referência na literatura”. Atendendo ao
prestígio de Mia Couto, o Município entendeu englobar no programa mais dois
momentos, duas tertúlias, que irão decorrer amanhã e domingo. “Importa
desfrutar da presença de Mia Couto”, assinalou, considerando que a estadia de
três dias possibilitará ao escritor conhecer Esposende e deixar-se seduzir por
este “Privilégio da Natureza”. Concluiu, apelando a Mia Couto para ser
embaixador de Esposende, “levando pelo mundo todo um pouco desta terra que o
acolhe plena de admiração e respeito pelo seu trabalho”.
Na
qualidade de Presidente do Júri, Sérgio Guimarães Sousa, apresentou o
enquadramento do Prémio, de periodicidade bienal, referindo que foi instituído
com o objetivo de homenagear e divulgar o escritor e homem de cultura Manuel de
Boaventura, bem como de incentivar a criatividade literária e o gosto pela
escrita. Manifestou satisfação pessoal por participar de tão importante evento,
atendendo à admiração que nutre por Mia Couto, enquanto escritor e como pessoa,
e deu nota da qualidade literária da obra “O Mapeador de Ausências”, tecendo
rasgados elogios ao autor. Realçou ainda a sua “intuição fabulosa” e “grande
sensibilidade”, que, de resto, salientou, já lhe valeram a conquista de
conceituados prémios literários. A terminar, Sérgio Guimarães Sousa expressou
palavras de agradecimento ao Município de Esposende.
A
sessão de entrega do prémio foi iniciada por um momento musical, a cargo da
intérprete esposendense Raquel Boaventura Rego, familiar do escritor Manuel de
Boaventura. Em declaração à cantora, Mia Couto elogiou a sua qualidade da sua
interpretação e manifestou-se comovido pela adaptação musical do seu poema
intitulado “Foi para ti.”