(Con) Viver com Poesia - especial Natal




 

Apresentação do livro «As sete Marias que matavam franceses»,

 de Domingos Amaral






ANCORAR LEITURAS 

Formação «Ler e escrever para a paz e harmonia», com João Manuel Ribeiro


Recomeços...com a leitura

Por estes dias a despedida da rainha Isabel II marcou as notícias e os media em todo o planeta. Isabel II teve um papel muito especial na monarquia do Reino Unido e fez do serviço a essa causa um valor de vida muito significativo, que será quase impossível encontrar um exemplo semelhante na ligação e identidade de uma cultura e de um País a uma figura pública. A simpatia por ela manifestada de modo tão significativo é o sinal de uma ligação, onde os valores da memória e da construção de uma identidade assumem um valor de uma relação que assumiu muitas formas.

A rainha Isabel II relacionou-se de muitas formas com a sociedade onde nasceu e cresceu, esse mundo onde o Império Britânico comandava o mundo até aos tempos em que ele se transformou numa Commonwealth. Alguns rituais mantiveram-se, mas existem sempre realidades novas a considerar, algo que a rainha Isabel II fez com grande capacidade.

Há alguns anos atrás, um escritor francês, Alan Bennett escreveu um pequeno e maravilhoso livro que nos revela o valor civilizador que a arte e a cultura, e nela a leitura podem ter no espírito humano. Nele o poder da leitura para desconstruir rotinas e criar mundos de possibilidades novos aparece quase como um conto de fadas,onde a rainha Isabel II quase prefere ser leitora a ser rainha. Um dia, ao procurar os seus cães encontrou a biblioteca itinerante estacionada no palácio de Buckingham, a rainha encontrou um funcionário da sua casa real, Norman que ao aconselhar-lhe um livro mudaria a vida da rainha. 

Alguns excertos sobre esse valor da leitura para mudar o que nos rodeia e o que podemos fazer com as nossas escolhas.

"A Rainha hesitou porque, para dizer a verdade, não tinha a certeza. Nunca se interessara muito pela leitura. Lia é claro, como toda a gente, mas gostar de livros era algo que deixava aos outros. Era um passatempo e fazia parte da natureza do seu cargo não ter passatempos.  Os passatempos implicavam preferências e as preferências tinham de ser evitadas; as preferências excluíam pessoas.  Havia que não cultivar preferências. A sua função era mostrar interesse por, não deixar que ela própria se interessasse. Além disso, ler não era fazer. Era alguém que faz. Por isso olhou a toda a volta a carrinha forrada de livros (...)

Agora que descobrira as delícias da leitura, Sua Majestade tinha muita vontade de as divulgar. Ao encontrar naquele dia Sir Kevin, ele [ao ver a a rainha a ler] disse-lhe:

- Consigo entender - disse ele - a necessidade que Vossa Majestade tem de passar o tempo.
-Passar o tempo? -disse a Rainha. -Os livros não são para passar o tempo. São sobre outras vidas. Outros mundos. Longe de querer que o tempo passe, Sir Kevin, quem nos dera ter mais. Se quiséssemos passar o tempo, íamos à Nova Zelândia.  
Sir Kevin retirou-se magoado. Porque é que, neste momento particular da vida, sentira subitamente atração pelos livros. Donde surgira esse apetite?

Sim, poucas pessoas tinham visto mais mundo do que ela. Quase não havia país que não tivesse visitado. Estando ela própria na tribuna do mundo, porque se entusiasmava agora com livros que, por muito que pudessem ser, não passavam de um reflexo ou versão do mundo? Livros? Ela vira a realidade.

-Eu leio e penso - disse ela a Norman -, porque temos o dever de descobrir como são as pessoas. - O comentário fora tão trivial que Norman não lhe dera muita atenção, pois não sentia esse dever e lia por puro prazer e não para se iluminar ou inspirar, embora soubesse que parte do prazer era inspiração. Mas ali o dever não entrava.  Para alguém com a formação da Rainha, no entanto, o prazer ocupara sempre o segundo lugar em relação ao dever. 

Mas porque é que aquilo se apoderara dela agora? Não discutiu isso com Norman, por sentir que dizia respeito a quem ela era e à posição que ocupava. O apelo da leitura, pensou, vinha da sua indiferença: havia na literatura algo de nobre. Os livros não se importavam com quem os lia, nem se os líamos ou não. Todos os leitores eram iguais, incluindo ela própria. Pensou: a literatura é uma comunidade. (...)

Só agora compreendia o que significava. Os livros não se submetiam. Todos os leitores eram iguais e aquele livro levou-a ao princípio da sua vida. Quando ela era nova, uma das suas maiores emoções foi a noite da Vitória na Europa, em que ela e a irmã se esgueiraram pelos portões, incógnitas, e se misturaram com a multidão. Sentia que havia algo disso na leitura. Era anónima, partilhada, comum. E ela, que levara uma vida à parte, ansiava por isso. Aqui, nestas páginas e entre estas capas, podia seguir incógnita. 

Porém, dúvidas e interrogações eram só o princípio. Uma vez no ritmo normal, deixou de lhe parecer estranho o facto de querer ler, e os livros, aos quais se afeiçoara tão cautelosamente, passaram pouco  apouco a ser o seu elemento. "

A Leitora Real / Alan Bennett. Lisboa: Edições Asa, 2009.

 

APRESENTAÇÃO DO LIVRO «NUNCA PARES», 

DE EMANUEL MENDES I BIBLIOTECA MUNICIPAL MANUEL DE BOAVENTURA I ESPOSENDE



 

A Rede de Bibliotecas do Concelho de Esposende celebra, de 20 a 27 de fevereiro, a Catraia de Livros - Semana da Leitura, dedicada ao Centenário de José Saramago.







A memória em José Saramago

 "Porque terá chegado a grande sombra, enquanto a memória não o ressuscitar no caminho alagado sob o côncavo do céu e a eterna interrogação dos astros. Que palavra dirá então.” (1)

 As memórias com que trabalhamos o quotidiano dão-nos imagens e flashes de vivências que tivemos e que pelo seu significado nos concedem espaços de viagem a um passado que apenas reencontramos. Neste território, queremos habitar o olhar, as formas de brincar com os dias, desejar construir o quotidiano com a mesma forma de possíveis, mas já lá não estamos com as mesmas atribuições de fantasia. 

As pequenas memórias, como espaço de infância é um território já afastado de nós, estranho à nossa dimensão de seres trabalhados no tempo e onde a viagem está já marcada por esse pó que se levanta dos dias. Escrever da infância é sempre regressar ao milagre da descoberta dos primeiros passos, do olhar que ficou marcado nos gestos, nos encontros, nas pessoas, nos objetos que reivindicam uma pequena imortalidade. A memória é também uma reconstrução desse tempo e nesse sentido do que foi a infância. 

Em As Pequenas Memórias José Saramago reescreve esse tempo, em que procurou integrar um espaço social, económico e cultural. As suas memórias terminam na adolescência, pois a construção da infância, a emersão nesse território por onde entrou no mundo aí fazem terminar a fantasia desse olhar. Biografia, uma biografia sua já não teria o mesmo significado. Em As Pequenas Memórias, Saramago recorda o processo de reconstrução da imagem da infância, pelo que foi, pelo que foi encontrado de particular e de original nessa festa que é sempre a chegada de uma criança. 

Em As Pequenas Memórias recebemos levemente os traços que confirmaram Saramago com um escritor. Já ali se descobre o seu olhar para as questões sobre as coisas. Apesar do seu sucesso educativo como aluno, é o olhar, os ambientes, as sombras, as pessoas, os dilemas de vida que forjam as suas representações do mundo. José Saramago descobriu-se como grande leitor mais tarde e a sua escrita conduz às palavras, essa imaginação das possibilidades, que desde criança o colocou nesse confronto com o quotidiano. 

As Pequenas Memórias explicam-no como pessoa e aproximam-nos de uma ironia de pensamento com que povoou os seus livros. A recriação do real, a ousadia das abordagens, as polémicas que manteve foram formas de construir as paisagens humanas, que desde cedo conheceu e quis transformar. 

A memória é também em Saramago, uma reconstrução, uma forma de possíveis. Toda a sua obra mergulha na tentativa conquistar o real, por esse olhar que desde cedo procurou trazer uma forma mais justa e questionável de medir o horizonte dos dias. Pode a memória recuperar esse tempo passado, essa aventura de um tempo sem tempo? José Saramago acha que sim. É uma possibilidade, mas convinha não esquecer que os unicórnios não costumam voltar do seu tempo de magia.

 (1) José Saramago. (2014). As Pequenas Memórias. Porto: Porto Editora.

Concurso nacional de leitura

 

                       Agrupamento António Rodrigues Sampaio - Fase de Escola - Alunos Selecionados

Apresentamos em baixo os alunos que no básico, nos diferentes ciclos venceram a 1ª eliminatória do Concurso Nacional de Leitura, a partir das leituras realizadas, justamente, As Naus de Verde Pinho, Missão Impossível e O Velho e o Mar. Deixamos as nossas felicitações aos alunos participantes e desejando que os que vão participar na fase concelhia possam ter um bom desempenho. Os resultados do CNL foram os seguintes:

1º ciclo

Artur Gulenko - EB de Rio de Moinhos 
Valentina Almeida - EB de Guilheta 
Santiago Sá -  EB de Forjães 
Vasco Nogueira - EB de Forjães

 2º ciclo

Sofia Bernardino Nunes (5.º MD) - EBARS 
Ana Etelvina Vasco Costa (6.ºMB)  - EBARS 
Soraia Lima de Lemos (6.º FA) - EBF 
Tomás Azevedo (5.º FB) -  EBF

 3º ciclo

Martim Ferreira (8.ºMA) - EBARS 
Matilde Coutinho (9.ºMC) - EBARS 
Matilde Marques (7.ºFA) - EBF 
Matilde Gião (9.º FA) - EBF

 Parabéns, a todos os que participaram! Um bom desempenho aos alunos que vão participar na fase concelhia!